terça-feira, 20 de abril de 2010


.meu Deus, não sou muito forte, não tenho muito além de uma certa fé não sei se em mim, se numa coisa que chamaria de justiça-cósmica ou a-coerência-final-de-todas-as-coisas. Preciso agora da tua mão sobre a minha cabeça...
...Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir.
Que eu continue alerta.
Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato.
Que eu não me perca.
Que eu não me fira.
Que não me firam.
Que eu não fira ninguém.
Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor!
Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre...
...sinto uma dor enorme de não ser dois..."
"...então penso que está certo assim, na nossa sede infinita acreditar e levar porrada mas voltar a acreditar e cair do cavalo e não deixar de acreditar e se desenganar e se arrebentar mas continuar acreditando que, de alguma forma, há alguma resposta de humano para humano. E que amar o humano do outro é aceitar e amar teu próprio humano, e que esse é o único jeito, o único way-out possível: procurar no humano do outro a saída do nosso próprio humano sem solução. E na minha memória, amar os pés nus do meu amor na minha blusa roxa. Ou o beijo na boca na escadaria. E pouco importar que tudo tenha sido ou continue sendo fantasia ou carência, porque é assim que as coisas são, e é através disso – e só disso, venusiano total – que posso crescer, e então quero crescer, e não me importo nem um pouco de voltar e acreditar e de ficar todo aceso e mais delicado para olhar as coisas, qualquer coisa."

(CAIO FERNANDO ABREU)

Um comentário:

Emilene Lopes disse...

Bela crônica!
Adorei seu blog!
vou segui-lo,
Bjs
Mila